Como é que a Inteligência Artificial está a mudar a produção musical?
A Inteligência Artificial (IA) está a revolucionar a produção musical de várias formas, permitindo novas metodologias e descentralizando processos que antes eram centralizados nos estúdios.
Exemplos Práticos e Vantagens
- Criação de Música por E-mail: Uma das inovações discutidas é a criação de música por e-mail, onde músicos colaboram remotamente. Um artista grava uma parte, envia por e-mail a outro que adiciona outra camada, e assim sucessivamente. Esta prática tem vindo a crescer nos últimos 15 anos.
- Descentralização dos Estúdios: Com a IA e outras tecnologias, os músicos não precisam de estar fisicamente juntos num estúdio. Podem gravar a partir de casa, o que é mais conveniente e reduz os custos.
- Ferramentas de IA: Plataformas como a Musiversal, por exemplo, utilizam IA para juntar artistas globalmente e permitir colaborações em tempo real. Estas plataformas ajudam a reduzir as barreiras de entrada na produção musical.
Vantagens
- Redução de Custos: A gravação remota elimina os custos elevados associados aos estúdios de gravação tradicionais.
- Acessibilidade: Mais pessoas conseguem criar música porque a tecnologia está mais acessível.
- Flexibilidade: Músicos podem colaborar independentemente da localização geográfica.
Desvantagens
- Falta de Interação Imediata: A troca de e-mails pode ser burocrática e demorar, o que pode afetar a qualidade e a "vibe" da música.
- Despersonalização: Perde-se o ambiente e a sinergia que só uma sessão de estúdio física pode proporcionar.
A IA na música está a abrir inúmeras possibilidades, democratizando a produção e tornando-a mais inclusiva e menos dependente de recursos financeiros
A música é realmente matemática?
A música, ao contrário do que muitos podem pensar, tem uma base profundamente matemática e física. André Miranda, CEO da Musiversal, explicou durante a entrevista que a música é governada pelas leis da física. Ele afirmou de forma enfática:
"A música é matemática".
A harmonia musical, por exemplo, baseia-se nas proporções entre as frequências sonoras. Miranda mencionou que ritmos e notas musicais funcionam como pulsos por segundo. Ritmos mais acelerados, como 440 batidas por segundo, podem atingir uma nota como o “lá”. Se essa frequência for duplicada, chega-se ao dobro da frequência inicial, criando outra nota “lá”.
Esta relação é apenas uma entre muitas que demonstra a interconexão entre música e matemática. André fez questão de salientar que as harmonias que "soam bem" entram dentro de proporções matemáticas específicas, como um terço, um quarto, entre outras. Por vezes, músicas que não seguem estas proporções podem soar desafinadas.
Como frisou durante a conversa:
“Os acordes que soam bem são certos rácio entre frequências”.
Ainda existem génios musicais na era digital?
Na era digital, há ainda espaço para génios musicais como Mozart e Beethoven?
Diluição do Talento
Com o aumento da produção musical, o talento pode parecer diluído. No passado, a música era um privilégio de poucos; hoje, qualquer um pode criar e distribuir música. Como resultado:
- Mais músicos amadores: Não era comum antes, mas com mais pessoas a criar música, a genialidade pode perder-se no meio.
- Produção excessiva: São lançadas cerca de 150 mil músicas no Spotify todos os dias, o que torna difícil identificar um novo génio.
Acessibilidade e Tecnologia
Embora a tecnologia democratize a produção musical, ela também cria desafios:
- Competição acirrada: Com mais talentos a competir, é difícil destacar-se.
- Ferramentas de IA: Facilita a criação de música de qualidade, levando à pergunta: será que é preciso um génio ou uma boa ferramenta?
Apesar destas mudanças, génios continuam a emergir. Contudo, o impacto é menos notório devido à enorme quantidade de novos artistas e à facilidade de criação musical.
Será que a Inteligência Artificial pode criar música totalmente nova ou estamos a chegar ao limite das combinações musicais possíveis? Essa é uma questão intrigante que muitos especialistas debatem.
Para começar, a IA têm conseguido criar músicas inovadoras, mas a criatividade humana ainda é essencial. Veja algumas perspectivas:
- Limitações das Combinações Musicais: As combinações de notas e ritmos não são infinitas. Em algum momento, as novas composições poderão começar a soar como algo já criado. André Miranda mencionou que mesmo as músicas desejáveis têm um limite.
- Iniciativas Ingénuas: Um exemplo curioso é a de alguém que tentou patentear todas as combinações possíveis de notas. Esta ideia foi rejeitada, claro, mas levanta a questão de até onde a criatividade musical pode ir.
- Permutações e Similaridades: Embora a IA possa criar música, tendemos a encontrar semelhanças com composições passadas. Isto é inevitável, dado o vasto repositório de músicas já existentes.
- Papel da Criatividade Humana: A IA pode ajudar, mas a intervenção humana é crucial para conferir autenticidade e emoção à música. Afinal, a arte não é só técnica; é também sentimento e expressão pessoal.
- O Futuro das Patentes Musicais: Com a inteligência artificial a ganhar terreno, surge a questão de como proteger as novas músicas e se é possível patentear todas as criações futuras.
Embora a IA esteja a revolucionar o mundo musical, a criatividade humana continuará a ter um papel insubstituível.
Como a IA pode personalizar a experiência musical?
A Inteligência Artificial oferece possibilidades incríveis para personalizar a experiência musical, adaptando-a aos gostos e preferências de cada ouvinte.
Adaptação aos Gostos Individuais
- Análise de Preferências: A IA pode analisar as músicas que mais ouvimos e sugerir novos artistas ou géneros semelhantes. Através de algoritmos avançados, plataformas como Spotify já utilizam essa tecnologia para criar playlists personalizadas.
- Músicas sob Medida: É possível que, no futuro, ouvintes tenham músicas criadas especificamente para eles com base nos seus humores e contextos. Por exemplo, através de dispositivos wearable que monitorizam o nosso estado emocional, a IA pode ajustar a música para melhorar o nosso bem-estar.
Exemplos de Personalização em Outras Áreas
- Publicidade Personalizada: Já assistimos a anúncios que se adaptam aos nossos interesses, baseados em históricos e comportamentos online. Esta técnica pode ser replicada na música, adaptando as faixas às ocasiões específicas.
- Gaming: Nos jogos de computador, a IA adapta a dificuldade e os desafios de acordo com a habilidade do jogador. Esse mesmo princípio pode ser usado para criar experiências musicais únicas, baseadas nas preferências do ouvinte.
“Se as minhas crianças vêm desenhados ... a AI consegue mudar os episódios para ... criar problemas matemáticos subtis” – Um exemplo de como a IA pode personalizar conteúdos para aumentar o valor educativo, conforme mencionado por Tocha.
Portanto, a IA não só pode melhorar a experiência musical, tornando-a mais rica e personalizada, mas também expandir suas aplicações para outras áreas, criando novos patamares de inovação e criatividade.
Muitos músicos estão preocupados com o impacto da inteligência artificial (IA) nos seus empregos. Embora a IA esteja a transformar a indústria musical, ainda há espaço para novas oportunidades.
Pontos principais:
- Preocupação com a Substituição: A IA pode substituir algumas tarefas musicais, mas dificilmente substituirá a criatividade humana essencial na produção musical.
- Novas Oportunidades: A chegada da IA também traz novas oportunidades. Por exemplo, há uma crescente necessidade de
prompters
– especialistas em criar prompts eficazes para guiar a IA. - Democratização da Música: A IA torna a produção musical mais acessível, permitindo que mais pessoas criem música sem ser profissionais. Embora isso crie uma competição maior, também facilita a descoberta de novos talentos.
- Personalização Musical: Com a IA, os músicos podem oferecer experiências personalizadas aos ouvintes, criando uma conexão mais forte e aumentando o valor percebido da música.
A chave é a adaptação e a inovação constante. Os músicos que aprendem a trabalhar com a IA e dominam novas skills, como o prompting, estarão melhor preparados para o futuro.